domingo, 3 de março de 2013

Árvores que não resistiram à urbanização.


SOS Mata Atlântica prestou tributo às árvores que não resistiram à urbanização.
A Fundação SOS Mata Atlântica promoveu um tributo às árvores que não sobreviveram à guerra da urbanização descontrolada na cidade de São Paulo. Sessenta cruzes de madeira reciclada, com 70 cm de altura cada, foram instaladas no gramado do Monumento às Bandeiras, no Parque Ibirapuera. A ação faz parte da campanha Veteranas de Guerra, lançada no último dia 21 de setembro (Dia da Árvore), que homenageia 20 das árvores mais antigas da capital paulista pelos serviços prestados à cidade e à população. A ação aconteceu dois dias depois de o Senado Federal aprovar a Medida Provisória que altera o Código Florestal Brasileiro, cuja votação, que ocorreu de forma simbólica, sem nominar os senadores, passou a proteção das florestas brasileiras mais uma vez para as mãos da presidente Dilma Rousseff. A campanha Veteranas de Guerra foi criada pela agência F/Nazca Saatchi & Saatchi. Conheça as veteranas e interaja com a campanha em www.veteranasdeguerra.org.

Veteranas de Guerra: Palmiteiros do Jardim Botânico

Para marcar a campanha “Veteranas de Guerra” e mostrar nosso respeito e admiração pelas árvores mais antigas da Mata Atlântica na capital paulista, a Newsletter Ecos da Mata fala um pouco sobre essas guerreiras a cada edição.  Palmeira de grande beleza e elegância, o palmito-jussara (Euterpe edulis) é a planta-mãe da Mata Atlântica, fornecendo alimento para grande parte da fauna – da paca ao tucano. Na cidade de São Paulo, essa árvore ocorria em abundância antes da urbanização, mas foi desaparecendo até quase chegar à extinção local por conta da procura por seu palmito para a culinária e, também, por ser usada como material de construção. Esse palmital do Jardim Botânico fica localizado em volta da nascente de um dos afluentes do histórico Rio Ipiranga.
 
 

Veteranas de Guerra: Passuarés do Parque Volpi
 
Essas imponentes e frondosas árvores da Mata Atlântica paulistana são desconhecidas até mesmo por quem se interessa pelo tema. Outrora espécie muito comum nas matas do sul do município de São Paulo, as passuarés (Sclerolobium denudatum) foram sendo gradativamente extintas com a urbanização da região e sobreviveram em espaços restritos da malha urbana, como o Parque Volpi e a Chácara Flora. Também ocorriam nas proximidades de rios, como o Pinheiros. Os exemplares do Parque Volpi são de grande porte e idade avançada e poderiam ser usados como matrizes para mudas de arborização urbana.
Veteranas de Guerra: Chichá do Largo do Arouche
Nos cartões-postais da primeira metade do século 20, o chichá do Largo do Arouche (Sterculia chicha) já era uma árvore gigantesca, que se destacava na paisagem por conta do seu tronco reto e comprido. Nascida provavelmente no século 19, em uma paisagem ainda rural, na propriedade do General José Toledo de Arouche Rendon, essa espécie da Mata Atlântica assistiu ao crescimento da metrópole e continua soberana. Uma característica da espécie são as raízes tabulares – em formato de tábua –, que são bem desenvolvidas. No passado, os índios brasileiros batiam nas raízes dos chichás para se comunicar na floresta por códigos, que ressoavam como tambores pela mata.
Veteranas de Guerra: Canela da Praça Buenos Aires
As velhas canelas (Nectandra megapotamica) lembram as antigas árvores dos contos-de-fadas, com seus belos e tortuosos troncos, cheios de nódulos e marcas. Espécie típica da Mata Atlântica paulistana, a canela é uma planta de grande porte, que vive muito e faz parte da história da cidade de São Paulo. No passado, os bandeirantes preferiam as madeiras das canelas para erguer suas casas e pontes, devido a sua grande durabilidade. Na Praça Buenos Aires existem diversas canelas centenárias, que datam da inauguração do local, quando ainda era raro utilizar espécies nativas para arborização e paisagismo.
Veteranas de Guerra: Figueira das Lágrimas
A veterana de hoje é considerada a árvore mais antiga de São Paulo. Sobrevivente da Mata Atlântica ancestral paulistana, a Figueira das Lágrimas (Ficus organensis) já viu muita história passar sob seus galhos. Situada na estrada que ligava o Porto de Santos à São Paulo do século 19, a árvore demarcava o final da cidade e servia de ponto de referência para a triste despedida dos amigos e familiares dos viajantes que seguiam para o litoral, para as longas viagens da época. Daí o apelido "das lágrimas". Até mesmo Dom Pedro I, a caminho do local em que proclamou a Independência, em 1822, passou debaixo da sua copa. No passar do século 20, a árvore foi sendo esquecida e hoje vive em um pequeno terreno no Sacomã, onde compete por luz e alimento com uma jovem figueira estrangeira, que foi plantada ao seu lado.
Veteranas de Guerra: o Jequitibá-Rosa da Praça Coronel Fernando Prestes
O jequitibá-rosa (Cariniana legalis) é considerado árvore símbolo do Estado de São Paulo. Porém, hoje são raros os locais da metrópole onde se pode observá-lo em seu formato típico e idade avançada. Nativa da Mata Atlântica, a planta é considerada a gigante das florestas do bioma. No passado, existiam exemplares tão grandes da espécie na capital paulista que, quando caíam nas matas, o barulho da queda se assemelhava a trovões. O exemplar da Praça Coronel Fernando Prestes, homenageado desta edição, é centenário e foi plantado ali, possivelmente, pela antiga Escola Politécnica.
Veteranas de Guerra: a Figueira do Piques
A Figueira do Piques (Ficus organensis), é considerada a mais imponente árvore do centro de São Paulo. Situada no Largo da Memória (onde está o Obelisco do Piques, o monumento mais antigo da cidade), ela possui uma copa de dezenas de metros de diâmetro, e é um exemplar nativo da Mata Atlântica paulistana. A Figueira deve ter nascido nas últimas décadas do século 19: em fotografias de 1922, há registros da árvore já adulta!
Por Monique Serrano - ambientalista
 

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