domingo, 26 de agosto de 2012

CONSCIÊNCIA ANIMAL...

CONSCIÊNCIA ANIMAL

Cientistas dizem que aves e até polvos têm alguma consciência.
Na onda dos manifestos assinados por cientistas defendendo posições sobre temas polêmicos, como o aquecimento global e a evolução, o tema da consciência animal é a bola da vez.
POR MONIQUE SERRANO - AMBIENTALISTA
A mensagem dos pesquisadores é clara: dado o peso das evidências atuais, não dá mais para dizer que mamíferos, aves e até polvo não tenham alguma consciência.
Foi o que um grupo de neurocientistas afirmou no manifesto Cambridge sobre a Consciência em Animais Não Humanos, lançado no mês de julho 2012 em uma conferência sobre as bases neurais da consciência na prestigiosa Universidade de Cambridge.

SEMELHANÇA


Nas últimas duas décadas, houve um grande progresso na neurobiologia, graças ás novas tecnologia que permitem testar velhas hipóteses.
Um conjunto de evidências convergentes indica que animais não humanos, como mamíferos, aves e polvos, possuem as bases anatômicas, químicas e fisiológicas dos estados conscientes, juntamente com a capacidade de exibir comportamentos intencionais e emocionais.
A ausência de um neocórtex (área cerebral mais recente e desenvolvida em humanos) não parece impedir um organismo de experimentar estados afetivos.
O peso da evidência, por tanto, indica que os seres humanos não são únicos no que diz respeito á posse das bases neurológicas que geram consciência.
“Enquanto cientistas, nós sentimos que tínhamos um dever profissional e moral de relatar essas observações para o público” disse Philip Low, neurocientista da Universidade Stanford e do MIT (Instituto de tecnologia de Massachusetts).


DECLARAÇÃO BEM FUNDAMENTADA


O manifesto foi assinado por 25 pesquisadores de peso. “Ela tem um componente político importante: um grupo de pesquisadores oficializa sua posição frente á sociedade assumindo diante dela o que a ciência já tem evidenciado há algum tempo”, diz Mateus Paranhos da Costa, pesquisador do comportamento e bem estar-animal da UNESP de Jabuticabal.

ESPELHO DA MENTE


A capacidade de alguns animais de se reconhecerem no espelho foi mencionada no manifesto.
Parece trivial se reconhecer ao escovar os dentes todas as manhãs, mas muitos bichos têm reações agressivas quando colocados cara a cara com seu reflexo.
No teste do espelho, um animal que nunca viu um objeto desses na vida é anestesiado até dormir.
Os pesquisadores pintam, então, uma marca no rosto do animal e esperam que ele acorde e ache o espelho colocado em seu recinto. Se ele tentar brigar com o “intruso” ou tocar a mancha no espelho, fracassou no teste. Contudo, se tocar a marca nele mesmo, é um forte indício de que tenha noção de si próprio.
Já passaram no teste chimpanzés, bonobos, gorilas, orangotangos, golfinhos-nariz-de-garrafa, orcas, elefantes e pegas-europeias (parentes do corvo). Crianças só passam no teste após 18 meses de vida.
Marlene Zuk, especialista em seleção sexual e comunicação animal da Universidade de Minnesota, afirma que é preciso ter cuidado com a atribuição da experiência humana a outros animais.
“Temos a tendência de fazer um ranking dos animais com bases em quão semelhantes a nós eles são. Entendemos muito pouco sobre como funciona a consciência. Os animais podem apresentar um comportamento complexo sem ter sistema nervoso complexo”.

Golfinho nariz-de-garrafa.

LACUNAS

                                                                                                                                             
Devido ao foco da conferência nas bases neurais da consciência, estudos relevantes para o bem-estar animal faltaram no manifesto.
A palavra “dor” não foi mencionada. Pesquisas já mostraram a existência da capacidade de sentir dor em peixes e invertebrados, excluídos da lista. A capacidade de sofrer com a morte de uma parente também já foi descrita em chimpanzés, gorilas, elefantes, leões-marinhos, lobos, lhamas, pegas e gansos.
“Se vivemos em uma sociedade que considera dados científicos ao pensar suas atitudes morais em relação aos animais, então o manifesto poderá iniciar mudanças” ressalta Low.
Para Paranhos da Costa, ao se gerar e divulgar evidências de que os animais de criação “não diferem dos demais quanto a capacidades de sentir, aprender, formar laços sociais”, transformações sociais ocorrerão.

Fonte: Folha de S.Paulo, segunda-feira, 23/07/12 C5

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